segunda-feira, maio 22, 2006

Alguém precisa de ajuda?

Pode ser alguma coisa na forma que eu caminho, tentando nunca mostrar indecisão (mesmo que eu esteja completamente perdido), mas o fato é que, em qualquer lugar, pessoas sempre vem me pedir informações. Seja em Montréal, quando visitava a Bia e não conseguíamos dizer muito além do “Je suis désolé” pra um casal que nos parou, seja na curta escala de algumas horas que fiz na Alemanha quando ía pra Israel, em que uma senhora me parou no trem e nem dizer “eu não falo alemão” eu sabia, o fato é que as pessoas devem achar que eu tenho cara de local, em tudo que é lugar.

Bom, pelo menos é o que eu achava. Agora penso que é essa minha cara de bom samaritano, mesmo. Só isso explica o que aconteceu ontem, quando japoneses vieram me pedir informações! Estava voltando do laboratório, de fones de ouvido, quando ouvi a distância um “sumimasen” (com licença), depois, outro. Não devia ser comigo, pensei, já que outros japoneses estavam por perto, e continuei andando, até ouvir um “excuse me”. Era comigo mesmo! Um casal perdido querendo saber onde ficava a estação Yoyogi-Uehara (代々木上原), coincidentemente, a minha estação. Estava indo pra lá e disse que eles podiam me seguir (em inglês, claro). Não tenho como passar por japonês, então deve ser a minha cara, ou o andar confiante, um dos dois, só pode ser...

domingo, maio 21, 2006

Explorando o subsolo

O trânsito rodoviário em Tokyo é muito lento, diz-se que a velocidade média é de 20 km/h na cidade. Ao redor do centro existe um anel que tenta desafogar o tráfego central, mas ele não é completo, já que por uma parte simplesmente não havia espaço para construção.

Quando acaba o espaço, japonês começa a cavar. Aqui, eles resolveram o problema com a construção de um túnel de 11 km para completar a auto-estrada em anel. O projeto está em construção e deve ficar pronto ainda esse ano, e é composto de dois túneis paralelos a 30 metros de profundidade, cada um com 12 metros de diâmetro.

O passeio desse fim de semana foi uma visita a este túnel em construção (Central Loop Shinjuku Line). A obra é feita através de um joint-venture de várias empresas, e caminhamos por um trecho de cerca de 800 metros sob responsabilidade de uma delas. Recebemos informações sobre a construção do túnel: uma broca gigante de 12 metros de diâmetro, pesando 2500 toneladas, cava a uma velocidade de 3 cm por minuto, ou 1,5 m por hora. Ela utiliza água para a perfuração. A água limpa é levada até a máquina por mangueiras, e a água com o barro da escavação é levada de volta para pontos de reciclagem, onde é separada do barro, que então é levado para fora do túnel. A cada 50 minutos, a máquina pára e se colocam placas de concreto pré-moldadas parecidas com peças de “Lego”, que são encaixadas e aparafusadas. Não há concretagem no interior do túnel, e de fato a obra é muito limpa. Para avançar a broca, macacos hidráulicos controlados por computador são usados, de forma que a broca ande sempre em linha reta, mesmo que um lado do solo perfurado seja menos duro/denso que os outros.

Foi um passeio legal, instrutivo e diferente, e fiquei mais tranqüilo por não encontrar os ovos do Godzilla lá embaixo. Espero ter mais chances como essa por aqui. E quanto mais eu desco, mais perto de casa estou. ;)

Mais detalhes sobre a obra estão nessa página.

quarta-feira, maio 10, 2006

Hábitos estranhos dos povos, incluindo os nossos

Agora não estou com tempo sobre escrever sobre minha aula de japonês. Resumidamente, dá pra dizer que ela vai bem e não é muito chata. Mas tem uma coisa da aula que é bem bacana: o fato de ter gente de tudo que é canto. Além de mim, tem o Hugo, brasileiro, e o Sérgio, moçambicano, mas que além de falar português é quase brasileiro. :) Fora os dois, tem mais três tailandeses, um suiço, um inglês, uma guria de Mianmá1 e outra da Mongólia2.

Como na aula a gente acaba aprendendo a falar das coisas da gente, detalhes sobre os nossos países acabam aparecendo, mas mesmo fora de aula tem muita coisa curiosa que acontece por causa dessa mistura de países.

Hoje ao sair da aula, chegando no elevador, lembrei que tinha deixado meu guarda-chuva na sala de aula, e voltei pra pegar. A guria da Mongólia se deu conta que também havia esquecido o dela e também voltou. Indo pelo corredor, ela esbarrou no meu pé, daquele tipo de pisada por trás que às vezes acontece quando se está seguindo alguém. Ela pediu desculpas e eu disse a ela que não era nada, enquanto falava com o inglês que estava na sala, ainda. Porém, ela não foi embora, ficou esperando nossa conversa terminar, meio angustiada.

Quando terminamos, ela disse:

- Desculpa, mas na Mongólia, sempre que pisamos atrás do pé de alguém, temos o costume/simpatia de sempre cumprimentar a pessoa, por exemplo, dando um aperto de mão. É um costume bobo, mas sempre fazemos...

Ao que eu apertei a mão dela, aliviada ela foi embora.

Esses dias comentava com um venezuelano sobre nosso costume de não andar com guarda-chuvas abertos em lugares cobertos (como de baixo de marquizes, passarelas, etc), por “trazer azar”, e portanto ficar o abrindo e fechando. Para um observador externo, deve causar a mesma estranheza. Só mesmo o convívio com gente diferente pra nos fazer questionar as coisas mais simples que os outros, e nós, fazemos.

1 Eu também não sabia sobre Mianmá, mas já havia ouvido do país pelo antigo nome: “Birmânia” ou “Burma”. Alias, ainda não sei nada, só continuo sabendo que fica na Ásia, e que as pessoas de lá todas falam com o nariz fechado, e numa entonação que parece de um software de síntese de voz. O que não os torna menos gente boa.

2 Já sobre a Mongólia, sempre me trazia a imagem dos bárbaros tipo Genghis e Kublai Khan, mas ao contrário do estereótipo, ela é uma das pessoas mais legais da turma. Com certeza, pelo menos, é a mais legal tirando os “lusofônicos”. ;) E por falar em Mongólia, isso sempre me lembra a história do termo kamikaze (神風), que significa “vento divino” e se refere a uma série de tufões que impediram as invasões mongóis do Japão pelo mar, afundando esquadras inteiras de inimigos. Os mongóis, sim, e não os aliados, foram as primeiras vítimas dos kamizakes, o que não evita que alguns tenham finalmente alcançado essa ilha e sejam hoje meus colegas de japonês. :)

terça-feira, maio 02, 2006

Terremoto

Acabei de sentir meu primeiro terremoto por aqui. Apesar de ter passado 3 meses no Japão em 2003, não havia sentido nenhum, pois daquela vez viajei bastante e eles sempre aconteciam onde eu não estava (tipo, uma semana antes ou uma depois de eu chegar/sair de um lugar).

Dizem que aconteceu um aqui na região de Tokyo na semana passada, de madrugada, mas não senti nada. Estava em casa e meu quarto fica no primeiro piso, e por isso fica difícil de se sentir (quanto mais alto se está mais o efeito é “amplificado”). Improvisei um “sismógrafo” no meu quarto, que não detectou nada daquela vez. Não tenho foto dele aqui comigo, mas outra hora mostro como usei minhas habilidades de McGyver para “construí-lo”.

Mas voltando ao tremor. Aqui eles chamam de jishin (地震) e é parte do cotidiano. Contam que o site onde leio a previsão do tempo mostra todos os (mini) terremotos que acontecem todos os dias, mas como só entendo a temperatura e os desenhinhos de sol, chuva e nuvens, não sei onde encontrar essa informação. Estava aqui no meu laboratório quando esse aconteceu, e o pessoal que estava conversando continuou normalmente como se nada estivesse acontecendo. Pra eles, de repente, nem vale a pena parar por algo tão leve. Claro, se começa a aumentar a coisa muda...

Foi mais ou menos assim: estava sentado na minha mesa, que fica dentro de uma daquelas baias feitas com divisórias (de cerca de 1,20m de altura). Minha mesa e cadeira começaram a jogar para os lados, cerca de uns 3-4cm para cada lado. Isso porque estamos no 5º andar. Lá no térreo provavelmente ninguém sentiu nada. Foram uns 15 segundos, e nos primeiros 5 eu ainda fiquei tentando entender o que estava acontecendo. Quando finalmente me dei conta, já estava terminando. Era como se minha mesa estivesse dentro de um ônibus andando numa estrada ruim. :)

O lado bom? Primeiro, é bom começar com um leve, pra que o susto seja menor quando um grande realmente acontecer. Também, dizem que esses pequenos são bons para liberar a energia acumulada: se as coisas estão paradas por muito tempo, quando acontece um terremoto, ele costuma ser dos fortes.

Update: Achei as informações sobre o terremoto no site que mencionei. Foi de nível 3~4 na escala japonesa, e 5,6 na escala Richter. O engraçado é que o centro foi na província de Kanagawa, pertinho de onde fica meu dormitório. De fato, o fim da linha do trem que eu pego fica em Atsugi, comentado na reportagem. O gráfico do terremoto está acima.