terça-feira, setembro 19, 2006

Doutorando

Pra evitar a formação de teias de aranha nesse blog, vou dar uma atualização geral sobre as atividades do verão. Fica cada vez mais difícil escrever, não por falta de tempo, mas pelo fato do meu dia-a-dia aqui estar cada vez com menos cara de “viagem” e mais parte da minha vida normal. E escrever sobre isso não parece tão interessante.

A primeira (grande?) notícia é que dia 30 de agosto teve minha prova de admissão pro doutorado. Desde que cheguei aqui estava como “estudante de pesquisa” (kenkyusei, 研究生) que é como chamam quem faz pesquisa mas não está buscando um título. Todos os bolsistas de pós do Monbukagakusho (文部科学省) chegam aqui com esse status e só se tornam mestrandos e doutorandos depois de aceitos nos exames de suas Universidades. Os exames variam muito: alguns tem provas de conhecimento, em japonês, outros em inglês, e a dificuldade varia muito. Eu tive sorte: no meu departamento não há prova escrita e a seleção consiste apenas de uma entrevista/apresentação de 12 minutos, onde se mostra as realizações do mestrado e a proposta de pesquisa pro doutorado. Isso, claro, depois de entregar uma lista de realizações de pesquisa, de publicações, e um plano de estudos.

Fiquei muito nervoso com a apresentação. Preparei meu slides com certa antecedência e mostrei pro meu orientador. Ele gostou mas sugeriu mais alguns slides. Meu nervosismo era por dois motivos. Primeiro, apesar de confiante na defesa da qualidade do meu trabalho de mestrado, nem mesmo eu estava convencido da maturidade da minha proposta pro doutorado. Como quem é “acadêmico” sabe, isso amadurece com o tempo, e no princípio nunca se sabe ao certo pra onde a pesquisa vai se encaminhar. Segundo, não tão importante, também tinha o desconhecimento de como seria uma banca de professores japoneses. Eles entenderiam minha apresentação ou, pelo menos, as justificativas de porque gostaria de fazer o doutorado naquele departamento? Que tipo de perguntas fariam?

Foi a terceira vez que fiz uma apresentação importante (sendo as outras duas a defesa da graduação e do mestrado), e também a terceira vez que me estresso sem necessidade por causa disso. A apresentação correu bem, consegui acertar o tempo perfeitamente, e as perguntas que vieram depois, apesar de várias, foram pertinentes e mostravam que eles realmente queriam entender melhor o que eu havia feito e queria fazer, e não me colocar em uma situação difícil. Ao terminar a apresentação, ao sair da sala, apesar de não ouvir o que a banca dizia (e mesmo que ouvisse não entenderia nada), ouvi umas risadas, o que me deixou mais tranqüilo. Sabia que não havia motivos para estarem rindo de mim ou da minha apresentação, então o clima era cordial e as coisas deveriam ter saido bem.

Dois dias depois meu orientador me informou o resultado: eu havia passado. O resultado oficial veio mesmo só na semana passada, mas desde o dia 1º já estou arrumando a papelada para mudar o status da minha bolsa, me desligar do departamento antigo e ligar ao novo etc.

O melhor desse acontecimento é me permitir ver minha estada aqui com outros olhos: quando a gente chega como kenkyusei está com o futuro aqui incerto. Não se sabe até quando vai ficar no Japão nem o que se vai fazer. Agora eu sei. Fico aqui pelos próximos 3 anos, pesquisarei, escreverei minha tese e, sabendo disso, posso me programar pra aproveitar da melhor forma possível meu tempo livre nesse canto do mundo.