sábado, dezembro 30, 2006

Checkpoint

Viajo amanhã, para o interior do Japão. Volto só pelo dia 2 ou 3. Esse é, portanto, o último post do ano. Todos os planos e objetivos de 2006 foram alcançados, além de algumas agradáveis surpresas. A fase de adaptação no Japão já se acabou. Espero, para 2007:

  • Aprender a falar japonês. Já entendo bastante coisa, já me viro no dia-a-dia, mas ainda tenho dificuldade de me expressar, de ter uma conversação, mesmo que básica, com as pessoas. Para alcançar esse objetivo pretendo aumentar meu vocabulário e redecorar padrões de expressões que já aprendi mas esqueci pela falta de prática.
  • Fazer mais amigos japoneses. Isso depende bastante do item anterior. Sei que não vou entender tudo daqui, mas vou entender muito mais se tiver contato com pessoas da terra que possam (tentar) me explicar as coisas do Japão e como o povo japonês pensa. Para isso, vou tentar aproveitar melhor as oportunidades que tenho de ter contato com as pessoas daqui.
  • Definir melhor o tema da minha tese. O plano original não era maduro o suficiente, além de chato, então estou procurando um novo assunto. Tenho uma idéia, parece legal. Vi que já fizeram algo parecido, mas não aprofundaram o tanto quanto eu gostaria. Só preciso agora convencer meu orientador que a idéia é boa e achar aliados que estejam interessados em trabalhar comigo.

Quando voltar escrevo sobre os assuntos atrasados: visita do meu pai e irmã, Natal e, até lá, Ano Novo.

Abraços e obrigado pela companhia. Por que não aproveitar para deixar um recado de fim de ano nos comentários? Pode ser qualquer coisa... uma apresentação, crítica, sugestão, um pedido ou um singelo “oi”. Todos serão muito bem recebidos.

Yoi otoshiwo (良いお年を), e até 2007!

quarta-feira, dezembro 27, 2006

E eu estava lá

Eu prometi escrever sobre o jogo, e melhor fazer isso logo já que tem muita coisa acontecendo aqui no fim de ano, que vai acumulando pra escrever.

O primeiro sinal de que aquele domingo seria atípico foi, ao passar pela Yodobashi Camera, uma loja de eletrônicos, pela manhã, ver um homem saindo com um PlayStation 3 recém comprado, o novo videogame da Sony. Por que estranho? Porque, lançado à poucos meses, esse aparelho é praticamente impossível de se comprar, já que a Sony está com sérios problemas de produção e o fornecimento é extremamente limitado. A gente aqui diz que o PlayStation 3 é que nem Papai Noel e coelhinho da Páscoa: se fala que existe mas na prática ninguém vê. Pois bem, ele existe sim, e de vez em quando até tem pra vender, mas esse não é o assunto desse post.

O assunto de hoje é o jogo. Chegou o tão esperado dia, sonho de muitos colorados que esperavam há anos por essa chance. O colorado não estava em Tokyo - muita coisa mudou desde que o grêmio foi campeão da Copa Toyota - mas em Yokohama (横浜), cidade moderna, com um excelente estádio que foi sede da final da copa de 2002.

Nas ruas de Tokyo se viam muitos colorados. Em qualquer ponto turístico, sempre se encontravam dois ou três com o fardamento do Inter: camisetas, jaquetas, ou apenas cobertos com bandeiras do Inter e do Brasil. Dizem que os torcedores do Barcelona são bastante fanáticos, mas a verdade é que não se via um espanhol pela rua, ou se os via, estes estavam “à paisana”.

Na verdade vimos apenas um grupo, à tarde, na famosa Chinatown de Yokohama. Um grupo de senhores conversava em espanhol e o Marco, amigo meu, não perdeu a chance de dar uma provocada. Disse que a alegria terminaria à noite, ou algo assim. Os espanhois gritaram “Barça, barça!” mas logo fomos embora, pois queríamos ir pro estádio.

Chegando na estação do estádio, o clima já era de superprodução. Vários guias indicavam o caminho, separando as pessoas pela entrada associada ao ingresso. Alguns falavam espanhol, português, até italiano, identificados em sua roupa. Mas não foi necessário, as próprias placas eram suficientes.

O estádio internacional de Yokohama (横浜国際総合競技場) fica a uns 15 minutos a pé da estação. Eu já conhecia o estádio, pelo menos por fora, mas não sabia! É que lá pela metade do ano eu fui a Yokohama prestar o TOEFL, e era muito próximo do estádio da Nissan, que eu havia visto. Eu duvidei que a final de um evento patrocinado pela Toyota seria no estádio da Nissan - as duas empresas são concorrentes -, mas de fato, o nome oficial do estádio é “Nissan Stadium”, sendo o nome “Yokohama International Stadium” o antigo, ainda usado em eventos da FIFA onde não é permitido usar a marca dos patrocinadores para nomear os estádios.

No caminho até o estádio, muitos estrangeiros vendendo camisetas, mantas, faixas do Barcelona. Alguns vendiam camisetas de outros times, da seleção brasileira, mas não havia quase nada do colorado. Um ou outro vendia a camisa oficial, muito cara, e obviamente ninguém comprava. Estes estrangeiros mal e mal falavam japonês, eram na maioria europeus, turcos, etc.

Não só pela quase exclusividade de venda de artigos do Barcelona, era claro que os japoneses estavam lá pra ver o Barcelona do Ronaldinho. Muitas pessoas usando ítens do Barcelona, e apenas um ou outro japonês com alguma coisa do Inter.

Pra entender é preciso falar da popularidade do Ronaldinho aqui. Tirando os jogadores de Beisebol japoneses, o Ronaldinho é sem dúvida a maior celebridade dos esportes aqui. Ele estrela diversas campanhas, a mais famosa é de um cartão de crédito onde aparece de terno falando de seu passado e como chegou aonde chegou, tudo em português com legenda em japonês. Tem cartazes dessa propaganda em todo lugar, até no meu supermercado, e a propaganda em si, até há algumas semanas atrás, era mostrada nos telões gigantes de Shibuya (渋谷), zona mais badalada de Tokyo onde fica aquele cruzamento que aparece no filme “Encontros e Desencontros”, um dos mais movimentado do Japão, senão do mundo.

Esse excesso de mídia faz as pessoas começarem a ver as celebridades como vindo de um outro planeta, de outro nível, diferente dos “reles mortais”. Assim, os japoneses foram ver o espetáculo do Ronaldinho, era claro pra eles que o Barcelona ganharia, e que Ronaldinho iria brincar no campo, dando um show pessoal.

Eu admito que até a gente acaba acreditando nessas bobagens. Vendo aquele estádio cheio de japoneses com bandeiras, camisas do Barcelona, dava até pra pensar que isso seria o que aconteceria, principalmente se os jogadores do Inter também, pelo menos de leve, acreditassem em tamanha bobagem.

Mas aí é preciso levar duas coisas em consideração. Primeiro, esse “Ronaldinho”, fenômeno, no fundo ainda era o piá que jogava nos campinhos de Porto Alegre, os mesmo que muitos jogadores do Inter já haviam jogado. E, mais importante, a torcida do Inter, se menos numerosa, era a torcida real, com paixão, e seus coros e gritos tomavam conta do estádio. Não havia comparação com o silêncio dos japoneses. Além disso, diferente do primeiro estádio onde o Inter havia jogado, em Tokyo, esse sim tinha cara de palco pro grande espetáculo que a torcida e os times fariam acontecer.

Pra ser sincero, havia uma torcida de espanhóis do Barcelona, mas pra minha surpresa, ela era menor que a do Inter. Tendo ouvido sobre como a torcida do Barcelona era fanática, e considerando que eles ganham em Euro, achava que o estádio estaria cheio de espanhóis, os únicos que poderiam rivalizar com a torcida do Inter, já que os japoneses uniformizados estavam ali apenas como figurantes. Mas, não, a torcida do Barça era de apenas uns 2/3 da torcida do Inter, que por estar espalhada pelo estádio - exigência da organização, dizem, que temia confusões - parecia ainda maior. Todos aqueles gritos ouvidos no Beira Rio tomavam conta do estádio de Yokohama: “Ronaldinho, amarelão, melhor do mundo é o Fernandão”, “Fernando... Carvalho...” e outros não tão inocentes que é melhor não escrever aqui. :)

E aí teve showzinho, apresentação. O Marco disse: "O Inter tinha que calar a boca de todo mundo hoje...", e o jogo começou. Ia ficando cada vez mais claro que o Barcelona era um time humano como o Inter, que aliás, era um belo time. Nunca entendi nada de futebol, e não foi no jogo que comecei a entender, mas dava pra ver que, se o ataque do Inter não se acertava muito bem, a defesa estava marcando bem o Ronaldinho, e conseqüentemente o “time das estrelas” que dependia dele ficava cada vez mais anulado. Claro, a marcação forte em cima dele deixava o outro lado um pouco mais aberto, por onde vários ataques eram feitos, o que nos deixava numa tensão danada, mas as defesas do Clemer foram decisivas nesses momentos.

O jogo foi indo, sempre no mesmo esquema. Terminou o primeiro tempo, e a gente ficou imaginando como seria o clima em cada vestiário. No do Barcelona, eles deveriam estar sem entender o que acontecia, no do Inter, a confiança e fé deveriam estar só crescendo. E o segundo tempo começou.

Poucas mudanças, mas ficávamos mais tranqüilos. Os ataques do Barcelona não eram mais tão fortes, até que, no final do jogo, o “inacreditável” aconteceu. O Inter marcou, e o silêncio dos japoneses que não entendiam o que acontecia contrastava com a festa da torcida colorada que tomava conta do estádio. No Japão, as coisas acontecem como o esperado. Japonês não gosta de inesperado. E eles estavam lá pra ver o Barcelona ganhar, como deveria acontecer - na cabeça deles. O gol do Inter não deveria fazer sentido.

O jogo finalmente acabou, mas antes passando os descontos mais longos da história, pelo menos na nossa percepção. E o “impossível” aconteceu. O Inter havia derrotado os “inderrotáveis”, os “melhores do mundo” e se tornava campeão do mundo. E eu, que nem gosto muito de futebol, estava lá, pra comemorar com toda aquela torcida fanática que atravessou o mundo, gastou uma nota, pra ver um sonho se realizar. Admito: claro que queria que aquilo acontecesse, não era meu sonho, mas estava feliz por ver o sonho de tanta gente se realizando. Era o inesperado, o triunfo dos desvalorizados, e, acima de tudo, o momento de glória, do desporto nacional. :)

No dia anterior, em Kamakura (鎌倉), a pequena estátua de Buda indicava o que estava por vir no dia seguinte. ;)

segunda-feira, dezembro 18, 2006

...registrar!

...e os vídeos!

Para a história...

Em seguida escrevo como foi! Por enquanto vão ficando com as fotos...

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Com o cosmo em seus dedos

Ontem à noite foi o jogo do Inter. Eu estava lá. Acho que muitos devem esperar que eu escreva hoje sobre como foi o jogo, ou sobre como foi estar assistindo ao vivo, mas pra decepção da torcida colorada, não é sobre isso que vou escrever. O que eu tenho pra contar é sobre algo que assisti ontem à tarde, em uma das séries de seminários que estou matriculado. Foi algo inesperado e bastante interessante. E espero que os colorados, depois de lerem, concordem comigo que valeu a pena deixar o jogo para depois.

Uma das coisas legais do departamento onde faço doutorado é que ele é multidisciplinar. O departamento, chamado “Advanced Interdisciplinary Studies”, apesar de ser ligado à escola de engenharia, também possui estudantes das áreas de biologia, sociologia, direito etc. Este semestre, além de uma série de seminários sobre dispositivos físicos do estado-da-arte, resolvi me matricular também nos seminários sobre “sistemas sociais”. Fiquei meio em dúvida sobre isso, pois eles fogem (bastante) da minha área de pesquisa (computação - tolerância a falhas), mas, apesar de serem todos em japonês e eu entender cerca de 5% do que está sendo apresentado, são sempre muito interessantes, coisas realmente novas para mim. Só lamento que meu nível de japonês não me permite levar comigo muito mais do que ali é passado.

Chegando na aula ontem, um professor estava preparando o projetor para sua apresentação, e sentado junto a audiência estava um outro japonês, engravatado, acompanhado de duas moças. Os três estavam de costas para os alunos, e o homem falava com o professor, usando uma voz estranha, alta para os padrões japoneses e com uma flutuação forte na entonação. Achei estranho, mas já me acostumei a achar tantas coisas aqui estranhas que não dei muita bola.

Quando o professor termina a preparação do equipamento, o japonês da voz estranha e uma das moças se levantam, se viram para os alunos e ele começa a falar. Então reparo que ele é cego, e as moças são suas assistentes. Ele pergunta para ela quantas pessoas estão presentes. Ela da uma olhada geral e diz para ele um número aproximado. Não entendo muito bem o que está acontecendo, como sempre, tudo acontece em japonês. Mas reparo que ela segura ambas as mãos dele, e enquanto fala, bate com os seus dedos nos dedos do homem.

Por que ela faz aquilo? Parece que, além de ser auxiliar dele, a moça tem algum tique nervoso. Ou ainda, que ele tem mais alguma deficiência, que exige que ela o toque para lhe passar algum feedback. Continuo assistindo, sem entender plenamente o que está acontecendo, enquanto os alunos distribuem um texto do palestrante. Pego a minha cópia, começo a examinar, verifico estar quase tudo em japonês, exceto o final, que apresenta um poema em inglês. O poema se chama “Cosmos on my Fingertips” (O Cosmo em meus Dedos) e diz:

When light and sound vanished from my life,
There ceased to be words,
And the world was no more.

Alone in the dark and silence,
I sat motionless, wordless.

But when your fingers touched my fingertips,
Words emerged into being,
Throwing light and invoking melodies lost.

When I communicated with you through my fingertips,
There arose a new cosmos,
And I discovered the world again.

Communication is my life.
My life is and will always be with words --
Words spun out from the cosmos on my fingertips.

Ao terminar de ler esse poema, senti um arrepio, uma sensação estranha, enquanto finalmente entendia aquela pessoa que estava ali. Ele era um surdo-cego, e a moça “digitava” em seus dedos o que estava escutando.

Depois recebi outra cópia do texto, esta em inglês. Aí tive mais detalhes. O nome do homem era Satoshi Fukushima (福島智), e ele é professor da Universidade de Tokyo. O texto distribuído era uma cópia de seu discurso de abertura da 2a Conferência Internacional para o Design Universal, que aconteceu este ano em Kyoto. O Prof. Fukushima nasceu com audição e visão normais, tendo portanto aprendido a se comunicar, mas aos 9 anos de idade perdeu a visão. Aos 18, para seu desespero, perdeu sua audição, tornando-se um surdo-cego. Segundo sua apresentação, o número de pessoas na mesma situação é de 1 para 5 mil a 1 para 10 mil, sendo portanto muito mais comum do que se pode imaginar (supondo o número menor, no Brasil devem existir cerca de 20 mil pessoas nessa situação!). A grande virada em sua vida foi o invenção, junto com sua mãe, da técnica chamada finger Braille que é esta digitação das palavras em seus dedos e o reconhecimento através do tato. Com ela, ele pode continuar seus estudos, sendo o primeiro surdo-cego a entrar em uma universidade, se formar, e finalmente se tornar professor da universidade mais conceituada do Japão.

Passada a apresentação inicial, a palavra voltou ao Professor que inicialmente preparava o projetor, que apresentou sobre técnicas de auxílio aos deficientes. A palestra foi uma das mais interessantes dessa série de seminários e, apesar da língua, em uma das quais mais entendi sobre o que se estava falando. Foram mostradas técnicas de reconhecimento de sons por surdos, o funcionamento de uma laringe artificial, a percepção do ambiente por cegos, robôs de auxílios aos deficientes, além de diversas outros “milagres” tecnológicos.

E, paradoxalmente, enquanto eu estava ali com meus 5 sentidos intactos, entendendo cerca de 10% do que estava sendo apresentado, o Prof. Fukushima, com suas duas assistentes que se revezavam a cada 20 minutos em seus dedos, provavelmente estava absorvendo mais de 95% do conteúdo da apresentação. Com esse pensamento na cabeça, saí da aula para o jogo do Inter, que fica para um outro post...

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Bonito, tudo colorido

Sabe aquelas atividades que a gente tem vontade de fazer, que a princípio não tem empecilho ou dificuldade maior, mas pelas circunstâncias a gente acaba adiando? E um dia, na situação mais inusitada, as coisas se arranjam, os “astros se alinham”, e a oportunidade cai de novo na frente da gente? Pois é, pra mim assistir um festival de balonismo foi mais ou menos assim.

Em Torres, a cerca de 200 km de Porto Alegre, todo ano tem um festival internacional de balonismo, bastante famoso e reconhecido, mas apesar da vontade, sempre acabava não assistindo. Estando aqui no Japão, claro, tento nunca deixar escapar as oportunidades, portanto, assim que fiquei sabendo que o campeonato mundial de balonismo seria aqui perto de Tokyo, em Tochigi (栃木), dei um jeito de me mandar pra lá.

O acaso foi a forma curiosa com que fiquei sabendo do evento. Uma vizinha estava de aniversário, e convidou um grupo de amigos para almoçar. Quando estávamos comentando sobre quem iria no almoço, ela comentou que uma outra brasileira, a Eliza, não iria, pois estaria trabalhando neste festival de balonismo. A Eliza é minha colega de japonês. Já havia conversado bastante com ela, mas nunca imaginara ela como observadora oficial de um campeonato de balonismo, ainda mais o campeonato mundial! São as pessoas e as surpresas que elas nos guardam... Conversamos, então, com a Eliza, pedimos mais detalhes sobre o festival, onde estava sendo, como chegar lá, qual o melhor dia para ir, esse tipo de coisa, e no fim de semana seguinte (o último do festival) nos mandamos para Tochigi, para ver uma das últimas provas e uma apresentação noturna dos balões.

Saímos de Tokyo e fomos para Tochigi, estação de Utsunomiya. Fomos com o Rafael, namorado da Eliza, que ficava conversando com ela pelo celular para nos dizer onde deveríamos ir. Para minha primeira surpresa, mas que pensando bem é algo óbvio, um festival de balonismo não acontece em um lugar específico: ele acontece em uma região. Isso significa que não existe um lugar para onde se ir para assistir o vôo dos balões. As provas consistem em um briefing onde os pilotos são informados onde é o alvo, e dentro de algum intervalo de tempo devem voar para ou sobrevoar este local, dependendo do tipo de prova. Como os pilotos não podem saber a priori onde o alvo fica, é complicado para nós, também, nos dirigirmos a ele e esperar os balões.

Felizmente tinhamos o Rafael e a Eliza. Assim que o briefing informou o local do alvo, a Eliza avisou o Rafael e para lá tentamos ir. Primeiro problema: tinhamos apenas uma coordenada. Isso não chega a ser um problema grande aqui, pois muitos taxis tem GPS. Mas estávamos longe de Tokyo, e não havia um único taxi com GPS na redondeza. Mais conversas com a Eliza. O Rafael consegue referências sobre o local do alvo: ao norte do local tal, sul da cidade tal, perto do rio tal, próximo das linhas de alta tensão, e assim entramos em um taxi para procurar o bendito lugar. Sorte que o Rafael fala bem japonês, e ía conversando com o motorista. Andamos, andamos, e nada do lugar aparecer. Nada de vermos um único balão. Ruas longas, praticamente estradas, no meio de campos de arroz. Após certo tempo de viagem, com a conta do taxi já chegando a 50 dólares, pedimos para o motorista parar, acertamos a conta, e dissemos que procuraríamos por ali. Ele, talvez com um pouco de pena, talvez também curioso em ver os balões, continuou andando com a gente por mais alguns quilômetros “pro bono”, dando voltas, até que finalmente avistamos o primeiro balão, e em seguida, diversos carros estacionados ao redor de um campo de arroz onde claramente deveria ser o alvo.

E aí foi bonito. Foi um balão, depois outro, logo o céu estava repleto de balões, que a distância não davam noção do seu real tamanho. Alguns, talvez por imperícia, estavam completamente distantes do alvo, passando a mais de um quilômetro do mesmo. Mas outros foram precisos, passando a alguns metros de onde estávamos. A visão valeu o custo da taxi, a espera, tudo. Tiramos muitas fotos e comentamos que pela primeira vez tirávamos fotos como aquelas de propagandas de camera ou filme fotográfico. Mas os balões foram passando, e, após o último, os carros ali estacionados começaram a ir embora.

Deveríamos então ir para o próximo evento, o chamado “Night Glow”, exibição noturna onde balões acendem seus maçaricos sincronizadamente, ou seguindo uma música. Esse evento seria no Twin Ring Motegi, autódromo que a Honda construiu para trazer a fórmula Indy ao Japão, e que ficava a uns bons 40 minutos de carro dali. Mas não tinhamos carona, e nem taxi passava por aquele local remoto. Já não havia quase mais ninguém para nos oferecer carona, já escurecia (aqui está escurecendo pelas 17:00), e estava bastante frio, cerca de 5 graus. E nós lá, “plantados”, no campo de arroz. Pedimos carona para o pessoal da organização do evento, que nos disseram que iriam para o Twin Ring, mas ainda deveriam terminar umas medições no local, e portanto levariam ainda mais uma hora, pelo menos, e que se não conseguíssemos outra carona, eles nos ofereceriam. O tempo foi passando. Estávamos preocupados. Achamos que eles haviam se esquecido de nós. Fomos nos aproximando deles de novo, até que finalmente duas moças vieram falar com a gente. Elas estavam indo para Motegi numa das vans da organização e podiam nos levar. Felizes e tranqüilos, finalmente!

Entramos na van, e o aquecimento nos realimentou de energia. Não conversamos muito no caminho, dormimos um pouco, e chegando lá, para nossa sorte, passamos por todos os pontos de controle sem muita espera, pois estávamos com o pessoal da organização, e nos largaram do lado do local da apresentação. A carona não poderia ter sido melhor.

Encontramos a Eliza, e a apresentação em seguida começou. Antes, claro, ainda vimos os balões serem enchidos, incluindo o balão decorativo da Honda, com forma de ASIMO. Além dos maçaricos acesos e da música, um bonito show de fogos de artifício acompanhou a apresentação, que só não foi mais legal por causa do frio que lá fazia. Mesmo assim, as fotos e vídeos ajudarão a guardar a lembrança.

Conclui que gosto mesmo de balões, e assumi um novo compromisso de vida: assistir ao Albuquerque International Balloon Fiesta, no Novo México, Estados Unidos.