sexta-feira, fevereiro 19, 2010

De volta, e vivo

Estou de volta! Ao Brasil ainda não, mas pelo menos ao blog. Andei afastado porque estava terminando a tese de doutorado. No Japão, cronograma é muito importante. Diferentemente do Brasil, onde os cursos de pós podem terminar em qualquer momento, por aqui os cursos podem ser concluídos apenas em duas datas no ano, e a decisão deve ser feita com mais de 6 meses de antecedência.

Como já havia mudado o tema da pesquisa duas vezes e estendido o doutorado por 6 meses, dessa vez estava na hora de me formar. Tive que recuperar o tempo perdido e, em menos de um ano, achar uma linha que ligasse tudo que eu já havia feito para “parir” uma tese. Foi uma correria. Dias e noites gastos no laboratório, experimentos, escrita de artigos e da tese. Enfim, como sempre, tudo deu certo, e minha defesa foi no fim de Janeiro. Agora estou resolvendo detalhes para minha formatura que será no fim de Março. Com mais tempo, posso voltar a escrever aqui, já que tanta gente perguntou por atualizações.

Não vou contar o que aconteceu em ordem cronológica; vou começar contando da viagem mais recente e aos poucos contando outras histórias que aconteceram antes mas ainda não escrevi a respeito. Primeiro, claro, vou contar sobre a viagem que fiz com o vale que ganhei no concurso do video, em que tantos de vocês me ajudaram.

Usei o voucher que ganhei de cerca de 400 dólares para visitar as duas cidades do Japão que, junto com Tokyo (東京), considero os pontos essenciais de se conhecer no Japão: Kyoto (京都) e Hiroshima (広島). Reservei um pacote de 3 dias que incluia passagem de trem bala (shinkansen, 新幹線) e hotel. Como já conhecia as duas cidades, isso foi suficiente. Revisitei alguns dos meus lugares preferidos e aproveitei para conhecer outros novos.

Quem acompanha esse blog de longa data deve saber que Kyoto foi a cidade onde primeiro morei no Japão, quando fiz um estágio lá no verão de 2003. Já visitei a cidade outras vezes desde que voltei ao Japão (descrito aqui, aqui e aqui) e a principal diferença que notei agora é que, se antes sentia Kyoto como minha “terra natal” por aqui, hoje já me sinto muito mais ligado a Tokyo. Foi estranho, mesmo hoje sabendo muito mais japonês (mas ainda assim pouco) para me virar em Kyoto, me sentia por lá como um turista, coisa que nunca aconteceu antes (e não acontece em Tokyo). Também, foi a primeira vez que visitei Kyoto no inverno. A cidade tem outra cara: não senti, por exemplo, o cheiro forte de doces a base de feijão na Estação de Kyoto (京都駅). Não sei se eles são sazonais ou era eu que estava com o nariz entupido. :)

Apesar do inverno, não peguei neve por lá: uma pena já que muitos dos templos e parques de Kyoto ficam muito bonitos cobertos de neve. O que fiz de novo foi visitar dois lugares que nunca tinha ido antes: o jardim do Santuário Heian Jingu (平安神宮神苑) e o templo Nishi Honganji (西本願寺). Este templo passou quase 10 anos em restauração e estava fechado todas as vezes que visitei Kyoto desde 2003. O que mais me impressiona nesse tipo de templo é como a forma de construção (de madeira, com piso de tatami - 畳) torna o ambiente fresco no verão e aquecido no inverno, sempre agradável, sem nenhum tipo de aquecimento ou resfriamento ativo. Ah, se mais da arquitetura contemporânea ainda levasse estes pontos em consideração!

O único ponto negativo da visita foi que, devido a curta duração, não tive tempo de revisitar meus amigos japoneses que lá moram. Quero ver se ainda encontro tempo para mais uma visita em breve.

Já Hiroshima fazia mais tempo que não visitava. Estive lá apenas uma vez, em 2003. A visita foi marcante e considero uma cidade que todo ser humano deveria ter a chance de visitar, algum dia, pelas suas principais atrações: o Parque Memorial da Paz (平和記念公園) e o Museu (平和記念資料館).

Hiroshima é hoje uma cidade alegre, com poucos vestígios do passado exceto pela área do Parque, construído sobre a região devastada pela Bomba e que preserva um dos poucos prédios que resistiram a ela. O que mais gosto do museu é que, além do detalhismo, conta os acontecimentos de maneira imparcial e nada maniqueísta. Por exemplo, na entrada do Museu, onde é mostrado o ambiente pré-guerra no Japão, se vê claramente como o exército Japonês pressionava o povo para contribuir para sua campanha imperialista, e como os japoneses celebraram a invasão da Manchúria. Do lado Americano, mostra que, com a entrada da União Soviética na guerra e a iminente rendição Japonesa, o uso da Bomba foi provavelmente para justificar o grande investimento Americano colocando os EUA em uma posição hegemônica no pós-guerra. Mas mostra também o auxílio Americano no tratamento das vítimas da radiação. Enfim, se aprende muito lá, se pensa muito no passado e no futuro da humanidade. E toca os visitante profundamente.

Com o resto do curto tempo da minha viagem, o plano era visitar Miyajima (宮島), ilha próxima de Hiroshima onde existe um famoso templo e portal sobre as águas do mar. Mas como já havia estado lá em 2003, também, resolvi seguir a sujestão do meu amigo Marcos (que estuda em Hiroshima) e visitar uma outra cidade ali perto: Iwakuni (岩国). Passei apenas a manhã de domingo lá, visitando a ponte Kintaikyo (錦帯橋) e o quarteirão com antigas casas da época dos samurais (侍). O tempo não ajudou: estava frio e o céu nublado, então após tirar algumas fotos, terminei minha viagem e voltei para Tokyo a bordo do shinkansen.

As demais fotos da viagem estão no álbum no Picasa.