quinta-feira, novembro 30, 2006

Churrasco japonês

Fim de semana passado teve aniversário de um amigo. O plano era reunir o pessoal em um restaurante de shabu-shabu (しゃぶしゃぶ). Nesses restaurantes, em frente às mesas, se colocam umas panelas com água quente, ou um caldo, onde são fervidas fatias finas de carne ou vegetais. Se coloca a comida ali pra ferver por uns minutos (como em um fondue de carne) e depois se mergulha a comida em um potinho cheio de molho, para dar sabor, antes de comer. Não é ruim, mas não é uma das minhas comidas preferidas por aqui.

Chegamos no restaurante onde havíamos feito reserva, mas por algum motivo os funcionários reservaram prum número menor de pessoas do que havíamos pedido, o que nos fez mudar os planos. Saímos de lá para um restaurante de yakiniku (焼き肉, lit. carne tostada) ali perto, o que me deixou mais feliz, por ser uma opção que me agradava mais.

Yakiniku é o que na minha outra estada no Japão conheci como “churrasco coreâno”. Alguns ainda chamam assim, mas hoje o yakiniku japonês é bem diferente do que veio originalmente da Coréia. Até porque não se come carne de cachorro. :)

O yakiniku é parecido com o shabu-shabu: também são fatias finas de carne ou outros vegetais trazidos à mesa, mas esses são tostados em uma pequena grelha ao invés de fervidos em uma panela quente. Em alguns casos se assam também cogumelos, salsichas etc. Depois, se mergulha os pedaços assados em um molhinho com gosto entre shoyu e molho inglês, bastante saboroso, o que dá mais graça à carne.

O restaurante que fomos me surprendeu positivamente. Nesses restaurantes, costuma se paga por um tempo fixo (em geral duas horas), no qual se vai pedindo as carnes e os outros ingredientes. Mas dependendo do lugar, depois de um certo tempo eles começam a demorar a ir trazendo a comida. Nesse, não houve resistência alguma e comemos muita carne, até não agüentar mais. Além disso, pela primeira vez vi um corte que lembrava picanha, mas o que mais gostei foram uns pedaços de carne mais encorpados, que ficavam mais suculentos que as usuais fatias finas. Talvez esses “filezinhos” não sejam do gosto do japonês, mas para nós, brasileiros, foram um sucesso. Já tivemos alguns churrascos aqui, bastante bons, mas esse yakiniku, além de mais fácil, não deixou nada a desejar.

terça-feira, novembro 21, 2006

Virou pastelada

Há três anos, na minha primeira visita ao Japão, fiz algo que nunca imaginava fazer: montar uma barraquinha de pastéis num festival. Se já foi bastante estranho da primeira vez, mais estranho ainda foi repetir isso nessa segunda estada, o que fizemos no outro fim de semana, aqui em Tokyo.

Todo ano o dormitório onde moro realiza o “Soshigaya Art Festival”, um evento que oportuna a maior integração dos estudantes estrangeiros que aqui vivem com a comunidade local. O festival tem diversas atividades: apresentações de danças típicas, oficinas, estandes de promoção dos países, e um “restaurante internacional”, onde os estudantes podem montar barracas e vender comidas dos seus países.

Há cerca de dois meses nos perguntaram o que gostaríamos de preparar pelo Brasil, e resolvemos montar um estande de promoção do Brasil e uma barraca de venda de comidas. Além disso, o Leandro, brasileiro que também mora aqui, conhecia um grupo de capoeira, e os convidou para se apresentarem no festival. Eles toparam. Apesar de não ter nenhum brasileiro nesse grupo, seria mais uma oportunidade legal de mostrar algo do Brasil.

Como já havia feito isso, sugeri de vendermos pastéis, e o pessoal gostou da idéia. Só que ninguém tinha noção de como nos prepararmos pra isso. Da outra vez, minha amiga Mayuko ficou responsável pela maior parte da preparação, comprando ingredientes, arranjando equipamento para cozinhar etc. Dessa vez estávamos por nossa conta, então precisávamos de um plano.

Primeira etapa do plano: determinar quantos pastéis gostaríamos de vender, e quais ingredientes e em que quantidades precisaríamos. Determinamos que venderíamos cerca de 200 pastéis, recheados com atum, batata, chocolate, banana, lingüiça e queijo. Os recheios podem parecer estranhos, mas são baratos aqui e agradam o público, como já tinha visto da outra vez.

Ok, mas alguém que nunca tenha feito pastéis tem idéia de quanto de ingrediente se precisa pra fazer 200 pastéis desse tipo? Nós não tinhamos! Primeiro, teríamos que determinar quanto de massa deveríamos comprar. Existem sites aqui no Japão que vendem coisas brasileiras, incluindo massa de pastel em rolo, mas não sabíamos quantos pastéis um rolo faria. Google to the rescue. Encontrei uma única página com receita de pastel dizendo que um rolo de 500 g servia pra fazer 10 pastéis. Certo, precisariamos de 20 rolos, pelo menos.

E os recheios? Quantas gramas de recheio vai em um pastel? A gente tem uma idéia do volume, mas não do peso. Aí lembrei que o volume de um recheio de pastel é mais ou menos o de um queijo Polenguinho. Bastava ver (mais uma vez, no Google), qual o peso de um Polenguinho, que rapidamente descobrimos pesar 20 g. Beleza, precisaríamos de cerca de 4 kg de recheio.

Fizemos (ou melhor, o Leandro fez) a encomenda das massas pela Internet. Por segurança, e por acharmos que conseguiríamos vender 200 pastéis facilmente, pedimos 25 rolos. Alguns dias depois chegou a encomenda, uma caixa grande com 12,5 kg de massa de pastel, que praticamente lotou as (pequenas) geladeiras do Leandro e do Bogdan. Em seguida, fomos ao supermercado comprar os ingredientes. Meio no olho, já que batatas e bananas aqui não são vendidas por peso mas por unidade, compramos os demais ingredientes, cerca de 1 kg de cada. Achamos, por sorte, barras de Suflair Alpino brasileiro no super, e resolvemos comprar, já que o preço era praticamente o mesmo do chocolate japonês, e ele derreteria mais facilmente, além de ser mais gostoso. :)

Sábado, dia 11, um dia antes do festival, resolvemos experimentar a primeira fritada, para ver como ficaria. Abrimos um rolo de massa e vimos ser possível fazer cerca de 14 pastéis por rolo, já que os nossos tinham um tamanho mais modesto. Poderíamos fazer cerca de 350 pastéis, ao invés dos 200 programados. Fizemos o primeiro teste, e ficou legal. Resolvemos então já fechar todos os pastéis para o dia seguinte. Terminamos todos os recheios, e resolvemos comprar mais duas latas de milho para terminar o queijo que ainda tínhamos. No fim, não teve desperdício algum. Ficamos na cozinha das 12:30 às 21:00! Também determinamos os preços dos pastéis. Gostaríamos de vendê-los por 250 ienes (cerca de R$4,50), mas lembramos que moedas de 50 ienes não são tão comuns e teríamos problema em dar troco, portanto resolvemos mudar os preços para “1 por 300, 2 por 500”.

No dia seguinte, domingo, tínhamos das 11:30 às 15:30~16:00 para vender nossos pastéis. Arranjamos um fogareiro portátil para fritar na própria barraca, além de uma panela grande, mas o vento no dia (estamos no outono), não permitia que o azeite esquentasse. Felizmente tinhamos um plano “B”, fritar os pastéis na cozinha do dormitório. Deixamos o fogareiro na barraca, com uma panela pequena, onde pastéis solitários eram fritos, mais de demonstração do que real ajuda. Fritamos os pastéis na cozinha, e os levávamos numas bandejas para a barraca. Fiquei a tarde inteira na cozinha fritando pastéis, mas o que me diziam é que quando chegava a bandeja com os pastéis quentinhos, a fila aumentava significativamente!

No final, sucesso total, vendemos cerca de 320 pastéis, descontando alguns que comemos, outros que se perderam por estourar etc. A estratégia de vender 2 com desconto funcionou, já que muita gente levava de dois em dois. Alguns comentaram que os pastéis estavam caros, mas o fato de termos vendido todos os pastéis prova que o preço estava apropriado (apesar de termos baixado um pouco no final do dia).

Tenho que agradecer em especial ao Francisco, mexicano, que passou a maior parte da tarde comigo fritando pastéis na cozinha. Sem a ajuda dele não teríamos conseguido suprir a demanda no horário de pico. Em especial, também, à ajuda dos outros brasileiros que não moram no nosso dormitório e vieram nos ajudar: Fernanda, Rômulo, Miura e Geraldo. Finalmente, aos “soshigayenses”, Bianca, Bogdan, Gustavo, Marcelo e Leandro. Nosso super time foi eficiente, vendeu tudo que tinha pra vender, e ainda juntou uma graninha.

Não falei do estande do Brasil, que fizemos as pressas, mas ficou muito bacana. Juntamos postais, cartazes, e alguns outros souvenirs, e ficou algo representante do país. O show de capoeira também foi um sucesso, atraiu muito a atenção de todos. Além disso, o Bogdan, um dos que moram aqui, tocou no violão músicas brasileiras, e apesar de eu não ter visto, dizem que foi bem bacana.

A todos nós, お疲れさまでした! (otsukaresamadeshita, bom trabalho)