sábado, março 31, 2007

Na terra dos meus antepassados

Já fazia tempo que eu queria conhecer a Coréia. Da primeira vez que vim ao Japão gostaria de ter ido pra lá, mas um problema de burocracia com vistos e permissões de reentrada me impediu. Finalmente, agora em Março, consegui conhecer Seoul (서울) e a zona desmilitarizada da fronteira com a Coréia do Norte. Foram apenas 3 dias, mas o suficiente para ter uma primeira impressão do país.

Por que a Coréia? Muitas razões. Primeiro, nós ocidentais até conseguimos pensar em algo quando ouvimos falar do Japão ou da China, mas quando o assunto é Coréia vem aquele branco, e as poucas coisas que sabemos é que lá aconteceram as Olimpíadas de 1988 - a primeira vez que muita gente ouviu falar do país - e que no norte um maluco mantém um regime autoritário e comunista, com planos de construír uma bomba atômica pra barganhar internacionalmente.

Além disso, queria ver quais das coisas “diferentes” daqui do Japão fazem realmente parte da identidade japonesa e quais são características mais gerais da Ásia. Claro, ainda tenho muito o que conhecer do continente, e não é por um país apenas que vou poder chegar a estas conclusões. Mas a Coréia é um local fácil e civilizado de começar essa exploração. Finalmente, e um motivo mais de brincadeira, é que meu sobrenome, “Jung” (jovem, em alemão), também é um dos sobrenomes mais comuns na Coréia, e já me confundiram com coreano pelo nome mais de uma vez. Queria, então, conhecer a terra dos “meus antepassados”. Hehe.

Não vou escrever aqui dados históricos e/ou políticos da Coréia. Isso pode ser encontradas nos (capítulos de introdução dos) melhores guias turísticos. Vou aqui apenas listar algumas das observações que fiz em 3 dias por lá. Não dou nenhuma garantia de que elas estejam corretas. :)

  • Vi muita coisa em construção. Tanto prédios enormes quanto obras de infra-estrutura. Pontes, ferrovias, viadutos. O superavit comercial do país é aparente e parece estar sendo posto em bom uso.
  • Seoul também é uma cidade populosa, mas com mais sensação de espaço que Tóquio. As ruas tem calçadas, e não vimos as casinhas e prédios grudados que vemos tanto aqui no Japão. Também, os espaços públicos são mais sujos que no Japão, mas ainda mais limpos que em muitas partes do Brasil.
  • A cidade tem um sistema de metrô bastante abrangente, com muitas linhas como o de Tóquio. Os vagões parecem mais simples, mas são mais espaçosos. Acho que eles utilizam a bitola padrão (não utilizada no Japão exceto no Shinkansen), o que deixa os corredores mais largos. O custo do bilhete é mais barato, e as catracas mais “primitivas”, embora estejam sendo substituidas por catracas mais modernas. O sistema também aceita cartões sem contato, mas pareceu um pouco menos movimentado que os trens em Tóquio.
  • Falando em preços, os do dia-a-dia são um pouco mais baratos que no Japão. Em geral as coisas baratas são um pouco mais baratas (uns 10-20%) e as mais caras são mais caras. Ingressos de museus, parques etc são bem mais baratos que no Japão.
  • As pessoas se vestem mais “normalmente” do que no Japão, mais discretas. Muitos passariam por brasileiros. Também, aparece uma diferença entre as gerações. Os jovens, por crescerem em um país mais desenvolvido, com mais educação, parecem ser de uma classe diferente dos mais idosos, de uma época em que a Coréia era mais pobre e simples.
  • Menos influencia americana do que esperava. Muito menos que aqui no Japão. Talvez porque na Coréia os americanos não terem sido o inimigo que venceu a guerra e ocupou o território, como aqui. Mas isso é só palpite. Existem as cadeias internacionais de fast food, mas não em toda quadra como aqui. O que mais surpreendeu foi a quantidade de marcas de produtos e serviços japoneses. Em muitas situações nos sentíamos “em casa”.
  • Relacionado aos dois pontos acima, tive mais uma impressão geral: a Coréia ainda não assimilou o “turbo capitalismo”, a sociedade do consumo exagerado, como o Japão e EUA. É um país ainda de caráter produtor. Não se vêem carros importados nas ruas, ou tantas grifes internacionais. Não se desperdiça tanto, em embalagens, combustíveis. Espero que mantenham essa mentalidade.
  • A Coréia é um dos paraísos de eletrônicos, mas estes não parecem tão incorporados à vida das pessoas como no Japão. Não vi pessoas usando notebooks nos trens, por exemplo. Celulares, claro, são muito utilizados, e bastante menores que no Japão. Vi muitas pessoas assistindo TV nos celulares, mesmo no metrô, o que não é possível no Japão (somente em trens de superfície). Também, muitas pessoas ouvindo players de MP3, mas menos iPods que no Japão. Acho que mais uma vez era a força das empresas locais.
  • Encontrei muitas coisas “comuns” da Ásia. As formas “estranhas” de especificar endereços (não por números nas ruas, mas por quadras nas regiões), as divisões geográficas, a alimentação. As comidas na Coréia são diferentes das japonesas, mas existe muita coisa parecida que mostra ter uma origem comum. Lendo sobre os costumes, vi que muitos são iguais aos do Japão. Quanto à escrita, é diferente. A Coréia utiliza um alfabeto fonético muito interessante chamado Hangul, mas seu uso é recente e antes dele se utilizavam caracteres chineses (ideogramas). Muitos nomes próprios ainda são representados dessa forma, com pronúncia vindo do chinês e que lembra o japonês. Alias, as placas nas ruas e atrações turísticas, além de representação em alfabeto romando/inglês estão descritas em ideogramas, o que facilita para os turistas da região. Mesmo para nós, em algumas situações, identificar alguns ideogramas era um comforto.
  • E quanto a cultura e história? Visualmente parece uma mistura de Chinês com Mongol, o que não é surpresa já que a Coréia é uma península ligada ao continente pela região da antiga Manchúria. Se imaginarmos vestimentas, hábitos, feições etc, desses dois povos e os juntarmos em uma só cultura, teremos algo muito próximo do que se vê nos museus da Coréia. Em termos de arquitetura e prédios históricos, muito foi destruído pelas sucessivas guerras e ocupações da região, mas felizmente hoje se vê um esforço grande de recuperação e manutenção desses espaços.

Estas foram impressões gerais da visita a Seoul, com grandes possibilidades de muita coisa equivocada. Observações sobre a zona desmilitarizada de fronteira com a Coréia do Norte ficam para o próximo post. Por enquanto, podem ficar com mais algumas fotos no Flickr.