Como escrevi antes, estou morando em um dormitório da JASSO, chamado Soshigaya International House. O bairro se chama Setagaya, e fica no “subúrbio”, ao sudoeste de Tokyo.
Ser afastado do centro tem um lado ruim. Existem apenas duas estações de trem próximas do dormitório. A primeira fica 20 minutos a pé ao sul, e a outra cerca de meia hora também a pé ao norte. De fato, a segunda já se encontra em outro município, fora de Tokyo, o que mostra o quão afastado do centro é o dormitório. É possível ir de bicicleta pras estações. A mais perto, entretanto, não tem lugar pra deixar a bicicleta, e o estacionamento particular custa 100 ienes (cerca de 0,84USD) por dia. Por enquanto vou indo a pé, então, e ainda não comprei bicicleta.
Quando chegamos ao dormitório, vindo de taxi do aeroporto, lá estavam algumas pessoas nos esperando. Além de uma estudante japonesa (Nozomi, se não me engano) que é uma das “resident assistants” do dormitório (um grupo de japoneses que pode morar no dormitório desde que auxilie os extrangeiros com algumas coisas), havia também o Bogdan, brasileiro, que além de morar no mesmo dorm trabalha no mesmo laboratório (e tem mesmo orientador) que eu, o Leandro, outro brasileiro que mora em Soshigaya, e a Elka, que morou lá mas teve que sair esse ano pois completou os 2 anos pelos quais se pode viver lá.
Ao chegarmos, nos mostraram as coisas básicas do dorm: o banheiro, a cozinha, e os nossos quartos. Exausto, deu tempo apenas de tomar um banho, e ir dormir.
No dia seguinte, primeiro no Japão, acordei de madrugada pela diferença de fuso, e após cerca de duas horas desfazendo as malas e dando uma arrumada geral no quarto, quando já estava claro, resolvi procurar a estação mais próxima. Havia visto no Google Maps a localização do dormitório, e sabia que a estação estava indo-se (um bocado) ao sul. Felizmente nesse dia já havia aparecido o sol, e com isso consegui achar a direção. Caminhei até a estação, encontrei de primeira. Chegando lá, dei uma olhada geral no mapa das linhas para ter uma idéia de onde estava em Tokyo, e de quanto teria que pagar para chegar até a Universidade, e voltei para o dormitório, chegando perto das 7:00.
Na metade da manhã tivemos uma reunião para preencher uns documentos de inscrição no dormitório, e também os formulários do registro de estrangeiros e do serviço público (seguro) de saúde. A guria que é a “resident assistant” nos mostrou as dependências do dormitório. Além da cafeteria na entrada, há uma sala de TV, um estar com jornais do dia (incluindo o Japan Times, em inglês), biblioteca, sala de reuniões, sala com tatami, sala de música (completa com piano, bateria e outros instrumentos) e um grande salão de festas. Do lado de fora há ainda uma quadra de tênis, sala de musculação e uma quadrinha de basquete coberta. Não sei se esses recursos são bem aproveitados, porém.
Terminamos a papelada e o “tour” perto do meio dia e fomos até o correio1 tentar fazer câmbio. Não era muito longe, cerca de metade da distância até a estação, ou seja, uns dez minutos a pé. Voltamos para o dormitório bem a tempo de nos reunirmos para ir ao escritório municipal para fazer a solicitação dos documentos.
Setagaya é um bairro da elite. As ruas são tranqüilas e arborizadas, cheias de casas, grandes para os padrões japoneses. As cerejeiras das ruas, ao chegarmos, estavam completamente floridas, e pode-se dizer que elas não florescem nessa época, elas explodem. Imagine uma árvore onde todas as folhas foram substituídas por flores, e é essa a visão. Quando as flores começam a se desmanchar, as pétalas caem e parece que está nevando, e as ruas ficam cobertas de pétalas que parecem confetti. É uma visão muito linda.
Algumas casas da vizinhança são do tamanho de casas de classe média em Porto Alegre, o que mostra o quão ricas as pessoas são por aqui. Nas garagens, sempre mais de um carro, geralmente sendo um deles um Mercedes, Audi ou BMW. Alguns Porsches e Jaguars também. Fico imaginando o custo do terreno onde o dormitório foi construído.
Algumas pessoas (principalmente senhoras) dessa vizinhança fazem parte da SIFA (Soshigaya International Friendship Association), que tentam nos dar alguma assistência, além de preparar alguns eventos sociais, como festas de recepção. Foram senhoras da SIFA que nos acompanharam até o escritório municipal para tirarmos os documentos. Elas falam inglês, e acredito que se envolvam com a SIFA também para ter a oportunidade de praticar. Como a Elka comentou, elas sabem todos os “esquemas” daqui, nos ajudam com a burocracia, e conhecem todo mundo. Além disso, oferecem aulas de japonês gratuitas para os interessados. São realmente uma grande ajuda.
Voltando ao dormitório, é realmente uma torre de babel. Tem gente de toda parte. América do Sul, Central e do Norte, Europa. Ásia, África, Oriente Médio. Claro, os grupos vão se formando, mas no geral se conversa com todo mundo. Essa parece ser uma vantagem desse dormitório: como existem vários lugares de convívio, as pessoas acabam se conhecendo melhor. No outro dormitório, Komaba, dizem, as pessoas acabam não interagindo muito, pois os quartos são mais completos (com chuveiro e fogareiro) e as áreas comuns mais limitadas.
Falando em Komaba, que é um dormitório do lado de onde vou trabalhar e poderia morar, uma questão que todos levantaram é que ninguém, praticamente, parece morar perto do lugar onde estuda e trabalha. Primeiro brincou-se que a explicação era que o governo japonês quer que reinjetemos o capital na economia, gastando pequenas fortunas no sistema de transporte, mas depois ouvi uma explicação mais plausível. Segundo ela, a localização dos estudantes foi feita de modo que na média todos morassem à mesma distância de suas universidades, evitando que uns morassem do outro lado da rua, mas que outros levassem 3 horas dentro de trens. Me lembrei de uma técnica chamada TCS (travel cost sharing) usada nas conferências da AIESEC, que é bastante parecida.
Sobre meu dormitório e vizinhança acho que é isso. Claro que há mais o que contar, mas não quero deixar isso aqui detalhista em excesso, e o mais importante está aí.
1O correio no Japão há anos realiza serviços de banco, o que é meio surprendente pra nós, que temos “banco postal” há poucos anos. Mais que isso, o correio do Japão possui o maior sistema de cadernetas de poupança do mundo, com mais de 2,1 trilhões de dólares. É uma das poucas instituições públicas daqui que resistiu a corrida das privatizações dos anos 80, que acabou com o monopólio estatal dos trens e das telecomunicações. O atual primeiro ministro Junichiro Koizumi (小泉純一郎), entretanto, elegeu-se com o plano de privatizar o correio, e após ter sua proposta derrotada pelo congresso (dieta), dissolveu o mesmo e decretou novas eleições, tendo obtido finalmente a maioria que deve dar continuidade ao processo. Isso mostra a importância do correio como instituição aqui.
7 comentários:
Bah legal a tu descricao e tal. Mas teria como colocar os próximos links em ingles? Aquele do Google Maps é brabo. Nao que eu vai entender qualquer coisa do nome se nao estiver em ideogramas, mas ao menos posso bricar com o Google Maps, para ficar no exemplo :-)
Gente ignorante é brabo :-)
Tchê, eu estou no Japão! Aqui é tudo em ideogramas! Vai ter que te acostumar. Aí já vai vendo como eu me sinto. ;)
Pô, que super residência!
E eu aqui, onde a maior área de convivência é a cozinha do piso um.
A maior, não... a única praticamente.
Ei eu também quero sala de musculação! :P
Mano,
to aqui na casa do pai, lemos o teu blog e imprimi pra Baba'... vou entregar pra ela depois senao ela vai deixar o camarao queimar na panela pra ler tuas coisas... :)
Beijo,
Nanda
Tá podendo hein Drebes :) Morando no bairro de elite toquiense (é assim que se descreve quem nasce em Tóquio?) Quando comprares teu porsche, avisa o pessoal.
Tchê... tem encontrado muito brasileiro por aí?
Um abraço!
Mto legal a descrição do seu dormitório e da vizinhança!!! bacana mesmo!!!
E tento imaginar como os sakuras devem estar realmente liiiiindo!!!!!
E o seu professor?? sussa??
Boas energias aí!!!
bjos!!
tá bem legal tua descrição inicial DREBES. vai aumentando a vontade de visitar o japão. abraço, feliz pascoa e siga nos escrevendo. Paulo Bonzanini
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