Já faz duas semanas que eu voltei de Kyoto, e ainda não terminei de escrever sobre minha visita. Vou fazer, então, um resumo rápido de como foi o último dia.
No domingo reencontrei amigos. Almocei com a Mariko (真理子), que trabalhava do meu lado, e a irmã dela, Asuka (明日香) que a Mariko me apresentou quando fiz a apresentação sobre o Brasil, e encontrei mais algumas vezes depois disso. Fomos num restaurante italiano bom e barato perto da estação de Kyoto. Conversamos bastante, rimos muito. As duas são bem queridas e divertidas, e continuam as mesmas da outra vez.
Pela tarde reencontrei a Hanako (花子), que foi minha manager (jargão da AIESEC para a pessoa responsável por um trainee) e se tornou uma das minhas melhores amigas aqui no Japão. Ela está morando em Osaka, onde começou a trabalhar em abril numa empresa importante de farmacêuticos. Por isso, não tem mais muito contato com a AIESEC Doshisha e não foi na janta no dia anterior. Mas no domingo, quando estava mais livre, fez questão de ir até Kyoto para me reencontrar.
Como estávamos cansados, fomos no Campus Plaza, um prédio do consórcio das universidades de Kyoto com várias salas de reuniões e de estudos, acesso a internet, etc. Fomos conversar no mesmo lugar onde, 3 anos antes, fizemos a reunião final antes do festival onde vendemos pastéis. Conversamos sobre a vida dela em Osaka e a minha em Tokyo, sobre planos, esse tipo de coisa. Uma conversa franca que prova que ela realmente é minha amiga (japoneses não se abrem muito quando estão só sendo simpáticos).
Terminando nossa conversa, peguei o metrô e fui para o Museu de Kyoto, pois a Sra. Magata havia me pedido um “favor”. Ela se registrou como voluntária do Museu para fazer visitas guiadas, em inglês, para turistas, mas até então nunca havia feito isso. Por esse motivo, se sentia insegura e gostaria de me “usar de cobaia”, fazendo uma primeira visita comigo para ver como se saía.
Eu já conhecia o museu, havia estado lá da outra vez e feito uma visita guiada justamente com uma dessas voluntárias, que me explicou muito do museu, focado principalmente na história de Kyoto e portanto também numa parte importante da história do Japão. O museu é interessante e recomendável. Ao chegar no museu, um dilema: a Sra. Magata me perguntou se eu já havia estado lá, e fiquei na dúvida se dizia que sim ou não. Acredito que, além do motivo de testar sua explicação sobre o museu, ela havia me convidado como uma atividade de entretenimento, da mesma forma que na primeira estada em Kyoto me levou para assistir apresentações de dança e teatro típico japonês. Se eu dissesse que já havia estado lá, esse sentido deixava de existir. Por outro lado, se eu dissesse que era a primeira vez que visitava o museu, colocava mais responsabilidade sobre a apresentação que ela faria. Na dúvida, optei pela gentileza, e disse que nunca tinha estado ali antes.
A visita não foi ruim, mas a explicação da outra voluntária na primeira vez foi muito mais clara e completa. Claro, experiência é fundamental. Mesmo assim, foi divertido andar pelo museu mais uma vez, pois algumas coisas lembrava e outras havia esquecido, e essa segunda visita ajudou a relembrar um pouco dessa parte esquecida. Tentei dar um apoio a ela, dizendo que a visita foi interessante e com a prática ficaria muito boa. Ela não pareceu muito convencida, mas acho que mesmo assim seguirá tentando. Me dispus a visitar o museu com ela mais uma vez em uma próxima visita a Kyoto.
Saindo do museu, voltamos até a estação de Kyoto, onde ela voltou para casa e eu fiquei esperando meu ônibus, que dali sairia em algumas horas de volta a Tokyo. Antes, claro, recebi uns presentes da Sra. Magata: uma capa de tecido para colocar em livros e um copo pintado a mão. Ambos os produtos são de uma loja1 da cooperativa onde ela trabalha, que auxilia deficientes físicos a encontrar ocupações profissionais. A capa e o copo são feitos por alguns desses deficientes. O envolvimento da Sra. Magata com essa cooperativa aconteceu ano passado, quando ela sofreu um acidente de carro e ficou alguns meses sem poder caminhar (agora ela já está 100% recuperada). Com isso, ela teve que fechar a padaria que tinha, foi trabalhar numa padaria dessa cooperativa, e conhecendo-a, começou a se envolver mais. Algumas das senhoras que participaram da janta no dia da minha chegada também eram dessa cooperativa.
Agradeci os presentes, agradeci a estada, mandei saudações para o resto da família. Ela me disse que quando voltasse a Kyoto, que mais uma vez ficasse na casa deles. Comentei que se visitassem Tokyo, entrassem em contato que podiamos sair para passear. Mas, mais uma vez, naquela sinceridade que os japonêses só mostram quando realmente te consideram como um amigo próximo, ela disse que não gosta de Tokyo. Eu também, se vivesse em Kyoto, não gostaria. Mesmo assim, era pra lá que devia voltar.
Peguei o ônibus domingo à noite, chegando em Tokyo segunda-feira cedo pela manhã. Como minha casa é longe da Universidade, fui direto para a aula de japonês, mas o prédio ainda estava fechado. Fiquei uma meia hora sentado na escadinha na frente do prédio, descansando um pouco da noite mal dormida no ônibus, até que um dos seguranças da Universidade chegou para mim e disse, em um bom inglês, que me surpreendeu:
- This building usually opens at 8:00, but today, specially for you, I will open it at 7:30.
Wow, o prédio abriu só pra mim. :) Entrei, fui para o lounge dos estudantes internacionais, e dei uma cochilada até o horário da aula, perto das 9:00.
O fim de semana tinha sido perfeito e a pergunta tinha sido respondida: sim, o Japão continuava o mesmo. As pessoas continuavam amigáveis, os lugares familiares ainda estavam lá. E decidi que, se me sentisse desanimado com minha vida em Tokyo de vez em quando, voltaria sempre a Kyoto, para recarregar as baterias e renovar o espírito.
1 - A loja fica no 9º andar da loja JR Isetan na Estação de Kyoto, se alguém tiver interesse quando estiver por lá.
2 comentários:
Drebes,
10 o teu relato sobre Kyoto - o melhor são as observações sobre o povo daí.
Olha a noticia que saiu aqui hoje.
A tal da mobilidade já está assim?
[]s
Acho que realmente tem mais usuários de serviços de dados móveis que fixos aqui, mas a maioria das pessoas só usa os serviços disponibilizados a partir da página inicial da operadora. Ou seja, apesar de tecnicamente estarem "usando a Internet" na verdade estão só acessando conteúdo da operadora. Acho que 99% das pessoas não sabe entrar uma URL no celular pra ir direto pruma página. O que ajuda bastante é o QR Code, um código de barras bi-dimensional que, capturado com uma camera de celular, abre o browser direto numa URL nele especificada. QR Codes vem em muitos cartões, propagandas e embalagens por aqui.
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