terça-feira, novembro 27, 2007

Mais lento que uma bala, mas mais forte que uma locomotiva

Lembro da primeira vez que andei de avião. Achei tudo o máximo: aquela máquina enorme que, em um movimento suave, nos levava rapidamente a lugares que normalemente levaríamos dias pra chegar; a vista “quase infinita” pela janela; o serviço de bordo; o design interno da cabine - queria ter uma casa como o interior de um avião! -, pareciam a perfeição: era a forma ideal de viajar.

Recentemente tive a oportunidade de andar pela primeira vez de “trem-bala” japonês. Por mais que hoje tenha muito mais idade que na época da primeira viagem de avião, o encanto foi praticamente o mesmo, coisa que só a tecnologia aplicada é capaz de proporcionar.

Andar de trem já é legal. O movimento é suave, o espaço interno é mais amplo, a janela mostra a paisagem como um “quadro dinâmico”. Mas o trem comum ainda tem alguns incômodos: “Ah, bem que a gente podia parar em menos estações!” ou “Não dava pra fazer essa coisa andar mais rápido?” são dois sentimentos freqüentes quando a gente já está ansioso para chegar. E é essa a maior graça do trem-bala: ele anda rápido e praticamente não para.

O trem-bala é mais um símbolo do Japão. Só que aqui ninguém conhece ele por esse nome internacional. No Japão ele é o shinkansen (新幹線). Literalmente, quer dizer “linha do novo trilho” e o nome foi dado na época da inauguração para diferenciá-lo dos trens comuns, que usavam as linhas (e trilhos) já existentes. Isso foi em 1964, ano das Olimpíadas de Tokyo, que além do shinkansen trouxe outras novidades como o Aeroporto de Haneda, o Tokyo Monorail e o Ginásio de Yoyogi. Mesmo ano em que, do outro lado do mundo, o Brasil tinha que engolir o golpe militar.

Hoje é possível viajar de shinkansen por duas das quatro principais ilhas do Japão, Honshu (本州) e Kyushu (九州) e uma linha ligando a ilha de Hokkaido (北海道) está em construção. A principal linha é também a original, que liga as duas maiores cidades, Tokyo (東京) e Osaka (大阪), passando por outros centros importantes como Nagoya (名古屋) e Kyoto (京都) no caminho. A viagem original desse trajeto tomava 4 horas em 1964, com os trens andando a 210 km/h, e hoje é feita em apenas 2 horas e 25 minutos, em velocidades de 270 a 300 km/h.

Os shinkansens não são os trens mais rápidos do mundo em operação já há alguns anos, e dificilmente voltarão a ser. O problema não é simplesmente técnico, mas sim do terreno montanhoso do Japão, que impede a construção de linhas com poucas curvas. A geração mais recente dos trens tem a mesma velocidade máxima da geração anterior, e o melhoramento técnico está na forma em que os trens se inclinam para percorrer curvas em maior velocidade. A tecnologia é toda japonesa, desenvolvida pelo centro de pesquisas da empresa JR (Japan Railways), mesmo centro que detém o recorde de velocidade de trens de 581 km/h alcançado na linha protótipo de trem maglev, perto do Monte Fuji. E tecnologia boa a gente (ou pelo menos, os japoneses) exporta(m): trens baseados no shinkansen também são usados em Taiwan, na China e na Inglaterra.

Prum país do tamanho do Japão, essas linhas de trem de alta velocidade fazem todo sentido. O custo da passagem não é dos mais baratos, uma passagem de Tokyo a Osaka custa cerca de 130 dólares, enquanto de avião custa cerca de 200, e de ônibus (que leva a noite inteira) 60, mas as vantagens são muitas. As estações de shinkansen ficam sempre dentro da área urbana, enquanto aeroportos ficam sempre mais afastados. Além disso, a viagem de trem não implica em toda paranóia de segurança. Não há toda a verificação de bagagem, e é possível chegar na estação e entrar no trem em menos de 5 minutos. Claro, não há serviço de bagagens, e estas são levadas dentro dos vagões, mas há espaço apropriado para malas (de tamanho médio) e conseqüentemente não é necessário esperar que elas sejam descarregadas como no caso do avião. Diferentemente do avião, também, não é necessário esperar todo o taxiamento pelo aeroporto após o pouso, nem a autorização de decolagem: o trem parte e chega exatamente no horário definido. De fato, são os trens mais confiáveis do mundo: Em 2003, a JR anunciou que o atraso/adiantamento médio de chegada dos shinkansen foi de 6 segundos em relação ao horário esperado, isso calculado sobre 160 mil viagens de shinkansen feitas e incluindo todos erros e acidentes naturais e humanos!

Mas chega de papo técnico. Como é andar de shinkansen? O sentimento é ótimo. Há espaço para as pernas, é possível ver de cenários urbanos a plantações de arroz e chá pela janela, que passam a uma velocidade impressionante. Isso, tudo, cercado pelos passageiros típicos do shinkansen, os salarymen.

Nos dois trens que peguei, acho que mais de 90% dos passageiros eram salarymen em viagens de negócio de mesmo dia. E como tudo no Japão, parecem seguir um ritual. Eles chegam com suas pastas, as acomodandam no compartimento sobre a poltrona, tiram os casacos de seus ternos, os penduram no gancho retrátil ao lado das janelas, sentam-se, abrem as mesinhas retráteis e começam a apreciar seus bentos (弁当), tradicionais “marmitas” japonesas. Alguns abrem seus notebooks, outros lêem jornais, mas praticamente nenhum se dá ao trabalho de fazer aquilo que, pra mim, é o mais agradável: apreciar a vista, pelas grandes janelas. Já devem estar cansados, claro, daquela vista constante em todas suas viagens.

Mas para mim tudo é novo, uma diversão. Espero poder fazer mais muitas dessas viagens, mas nunca tantas que, para mim também, elas se tornem entediantes.

domingo, novembro 04, 2007

Fim de mais um dia no metrô de Tokyo

Nada de especial, só uma cena típica dos trens no Japão.

Detalhe para, entre os pés dele, o livro que estava lendo. Quando chegamos no fim da linha, onde trocamos de trem, o funcionário do metrô o acordou e ele saiu caminhando normalmente. Vida dura, essa de Salaryman (サラリーマン). Otsukaresama desu (お疲れ様です)...