terça-feira, novembro 21, 2006

Virou pastelada

Há três anos, na minha primeira visita ao Japão, fiz algo que nunca imaginava fazer: montar uma barraquinha de pastéis num festival. Se já foi bastante estranho da primeira vez, mais estranho ainda foi repetir isso nessa segunda estada, o que fizemos no outro fim de semana, aqui em Tokyo.

Todo ano o dormitório onde moro realiza o “Soshigaya Art Festival”, um evento que oportuna a maior integração dos estudantes estrangeiros que aqui vivem com a comunidade local. O festival tem diversas atividades: apresentações de danças típicas, oficinas, estandes de promoção dos países, e um “restaurante internacional”, onde os estudantes podem montar barracas e vender comidas dos seus países.

Há cerca de dois meses nos perguntaram o que gostaríamos de preparar pelo Brasil, e resolvemos montar um estande de promoção do Brasil e uma barraca de venda de comidas. Além disso, o Leandro, brasileiro que também mora aqui, conhecia um grupo de capoeira, e os convidou para se apresentarem no festival. Eles toparam. Apesar de não ter nenhum brasileiro nesse grupo, seria mais uma oportunidade legal de mostrar algo do Brasil.

Como já havia feito isso, sugeri de vendermos pastéis, e o pessoal gostou da idéia. Só que ninguém tinha noção de como nos prepararmos pra isso. Da outra vez, minha amiga Mayuko ficou responsável pela maior parte da preparação, comprando ingredientes, arranjando equipamento para cozinhar etc. Dessa vez estávamos por nossa conta, então precisávamos de um plano.

Primeira etapa do plano: determinar quantos pastéis gostaríamos de vender, e quais ingredientes e em que quantidades precisaríamos. Determinamos que venderíamos cerca de 200 pastéis, recheados com atum, batata, chocolate, banana, lingüiça e queijo. Os recheios podem parecer estranhos, mas são baratos aqui e agradam o público, como já tinha visto da outra vez.

Ok, mas alguém que nunca tenha feito pastéis tem idéia de quanto de ingrediente se precisa pra fazer 200 pastéis desse tipo? Nós não tinhamos! Primeiro, teríamos que determinar quanto de massa deveríamos comprar. Existem sites aqui no Japão que vendem coisas brasileiras, incluindo massa de pastel em rolo, mas não sabíamos quantos pastéis um rolo faria. Google to the rescue. Encontrei uma única página com receita de pastel dizendo que um rolo de 500 g servia pra fazer 10 pastéis. Certo, precisariamos de 20 rolos, pelo menos.

E os recheios? Quantas gramas de recheio vai em um pastel? A gente tem uma idéia do volume, mas não do peso. Aí lembrei que o volume de um recheio de pastel é mais ou menos o de um queijo Polenguinho. Bastava ver (mais uma vez, no Google), qual o peso de um Polenguinho, que rapidamente descobrimos pesar 20 g. Beleza, precisaríamos de cerca de 4 kg de recheio.

Fizemos (ou melhor, o Leandro fez) a encomenda das massas pela Internet. Por segurança, e por acharmos que conseguiríamos vender 200 pastéis facilmente, pedimos 25 rolos. Alguns dias depois chegou a encomenda, uma caixa grande com 12,5 kg de massa de pastel, que praticamente lotou as (pequenas) geladeiras do Leandro e do Bogdan. Em seguida, fomos ao supermercado comprar os ingredientes. Meio no olho, já que batatas e bananas aqui não são vendidas por peso mas por unidade, compramos os demais ingredientes, cerca de 1 kg de cada. Achamos, por sorte, barras de Suflair Alpino brasileiro no super, e resolvemos comprar, já que o preço era praticamente o mesmo do chocolate japonês, e ele derreteria mais facilmente, além de ser mais gostoso. :)

Sábado, dia 11, um dia antes do festival, resolvemos experimentar a primeira fritada, para ver como ficaria. Abrimos um rolo de massa e vimos ser possível fazer cerca de 14 pastéis por rolo, já que os nossos tinham um tamanho mais modesto. Poderíamos fazer cerca de 350 pastéis, ao invés dos 200 programados. Fizemos o primeiro teste, e ficou legal. Resolvemos então já fechar todos os pastéis para o dia seguinte. Terminamos todos os recheios, e resolvemos comprar mais duas latas de milho para terminar o queijo que ainda tínhamos. No fim, não teve desperdício algum. Ficamos na cozinha das 12:30 às 21:00! Também determinamos os preços dos pastéis. Gostaríamos de vendê-los por 250 ienes (cerca de R$4,50), mas lembramos que moedas de 50 ienes não são tão comuns e teríamos problema em dar troco, portanto resolvemos mudar os preços para “1 por 300, 2 por 500”.

No dia seguinte, domingo, tínhamos das 11:30 às 15:30~16:00 para vender nossos pastéis. Arranjamos um fogareiro portátil para fritar na própria barraca, além de uma panela grande, mas o vento no dia (estamos no outono), não permitia que o azeite esquentasse. Felizmente tinhamos um plano “B”, fritar os pastéis na cozinha do dormitório. Deixamos o fogareiro na barraca, com uma panela pequena, onde pastéis solitários eram fritos, mais de demonstração do que real ajuda. Fritamos os pastéis na cozinha, e os levávamos numas bandejas para a barraca. Fiquei a tarde inteira na cozinha fritando pastéis, mas o que me diziam é que quando chegava a bandeja com os pastéis quentinhos, a fila aumentava significativamente!

No final, sucesso total, vendemos cerca de 320 pastéis, descontando alguns que comemos, outros que se perderam por estourar etc. A estratégia de vender 2 com desconto funcionou, já que muita gente levava de dois em dois. Alguns comentaram que os pastéis estavam caros, mas o fato de termos vendido todos os pastéis prova que o preço estava apropriado (apesar de termos baixado um pouco no final do dia).

Tenho que agradecer em especial ao Francisco, mexicano, que passou a maior parte da tarde comigo fritando pastéis na cozinha. Sem a ajuda dele não teríamos conseguido suprir a demanda no horário de pico. Em especial, também, à ajuda dos outros brasileiros que não moram no nosso dormitório e vieram nos ajudar: Fernanda, Rômulo, Miura e Geraldo. Finalmente, aos “soshigayenses”, Bianca, Bogdan, Gustavo, Marcelo e Leandro. Nosso super time foi eficiente, vendeu tudo que tinha pra vender, e ainda juntou uma graninha.

Não falei do estande do Brasil, que fizemos as pressas, mas ficou muito bacana. Juntamos postais, cartazes, e alguns outros souvenirs, e ficou algo representante do país. O show de capoeira também foi um sucesso, atraiu muito a atenção de todos. Além disso, o Bogdan, um dos que moram aqui, tocou no violão músicas brasileiras, e apesar de eu não ter visto, dizem que foi bem bacana.

A todos nós, お疲れさまでした! (otsukaresamadeshita, bom trabalho)

6 comentários:

Fernanda disse...

Otsukaresamadeshita!!!!!!!
Deu um trabalhao mas valeu o esforco, ne? Quase nao deu pra passear em outras barracas, mas me diverti fritando os pasteis demonstrativos! O duro eh q eles pediam um pastel, eu colocava na frigideira, e quando ficava pronto, ja tinha chegado pastel da cozinha, vendido tudo, e o meu ficava sobrando... :)

Mity disse...

Eu juro que queria estar aí pra ver isso tudo acontecer! Quando tu voltar pro Brasil, vais ter que vir aqui em casa fazer pastéis desse tipo tbm, hehehehe!

Beijos e muitas saudades!
Mity

Bianca disse...

Parece divertido!!
Adorei os sabores.. soh faltou o de "vento" que eu comia quando era crianca.
Quero provar pastel de batata!
Teh mais!

Unknown disse...

A gente resolveu não fazer o pastel de "vento", porque aqui no Japão ele ia ser de "tufão", o que seria muito perigoso! :)

Anônimo disse...

Drebes, teus post ainda vão dar num livro - "Sob o Sol Nascente", ou coisa parecida ;-) - escreve mais!

Gustavo disse...

Masááá Seu Drebes hein. Agora falta virar um Sushi Master para meter o terror quando voltar. Faltou o "pastel de rodoviária", aquele troco frio e graxento :-).

Na próxima coloca o ovo "rosa" tb :-)

Abraco e gute Arbeit (bom trabalho).