Quinta-feira passada completou 6 meses que cheguei no Japão. Fui almoçar em Shinjuku (新宿), o bairro comercial mais movimentado de Tokyo, porque a tarde havia combinado com a Elka, uma amiga, de comprar ingressos e passagens para um passeio que fizemos com um grupo nesse sábado. Chegamos no escritório onde vendem as passagens e, devido ao feriado que tivemos na segunda, estava difícil conseguir os pacotes para o dia e horário que queríamos. Mandamos mensagens para o resto do grupo para ver qual a opinião deles, e enquanto esperávamos resolvemos tomar um café ali perto.
Durante o café, perguntei à Elka, que fala japonês muito bem, se ela podia me ajudar numa loja perto dali onde tinha visto uma bicicleta que me interessou, mas precisava saber se eles faziam entrega em casa. Estou aqui a 6 meses, e por todo esse tempo fiquei sem bicicleta. O pessoal do meu dormitório já estava até brincando comigo, já que eu era o único que não tinha. O que acontece é que quando vou comprar algo, fico muito tempo decidindo, escolhendo, vendo se é realmente o que quero, e só então compro.
Bicicletas no Japão são essenciais, parte da vida, e existem modelos variando de 50 a 1500 dólares. Não queria a bicicleta mais barata, elas não são ruins, mas são bem simplesinhas. Não queria a bicicleta mais cara, difícil justificar um gasto tão grande em uma bicicleta a menos que isso fosse um hobby, coisa que pra mim (ainda) não é. Queria algo intermediário, com preço legal e que fosse bonita. E fiquei cerca de 6 meses procurando essa bicicleta.
Semana passada tinha visto a bicicleta, em uma loja de departamentos que seguido visito, a Bic Camera. Era uma mountain bike que custava cerca de 235 dólares, preço razoável, design bacana. Estava quase decidido, depois de tanto tempo. Fomos à loja perguntar da entrega, mas não planejava comprar no momento. O vendedor disse à Elka que eles entregavam, sim, mas que tinha um custo, cerca de 8 dólares. Nessa hora, vi também que havia uma nova cor do mesmo modelo, um preto fosco que achei ainda mais bonito que o prateado que havia visto antes. Fiquei bem tentado a comprar, mas já havia esperado tanto tempo e realmente não queria comprar por impulso. Também, havia visto uma outra bicicleta em outra loja, não tão bonita e um pouco mais cara, mas de alumínio. Quanta indecisão...
O Issamu, outro amigo, escreveu para a Elka e disse que vinha nos encontrar. Ele é um cara de quem gosto de ouvir opiniões, então resolvi esperar ele chegar para perguntar o que ele pensava. Uns 20 minutos depois ele chega e trocamos umas idéias sobre a bicicleta. Ele também acha ela bonita, um preço bom, e eu me decido, finalmente, a comprar. Vamos ao caixa, preencho o registro anti-furto1 e o vendedor me diz o total. Entrego o dinheiro, o vendedor registra no caixa, olha a tela, e diz “ee, sugooi!” (algo como “uau!”) e começa a tocar um sino! Ele olha para a Elka com uma cara de “me ajuda, por favor!”.
A Bic Camera está com uma promoção que a cada 100 clientes, um não paga. E eu fui um centésimo cliente! O vendedor devolveu meu dinheiro, e eu ganhei a bicicleta de graça. Fiquei ainda na ansiedade porque ela só seria entregue no domingo, mas como planejado ela chegou esse fim de semana.
Pode não ser a melhor ou mais bonita bicicleta, mas de graça, foi um ótimo negócio. Agora não preciso mais caminhar os 3,2 km diários para ir e voltar da estação de trem. Meus vizinhos não brincam mais comigo por eu ter demorado tanto pra comprar a bicicleta, e se eu já gostava muito de passear pela Bic Camera, agora, então, tenho ainda mais motivos pra gostar dessa loja.
1 O registro anti-furto é um serviço onde colocam um número na bicicleta, e a polícia pode dar batidas eventuais e verificar se esse número está registrado em nome da pessoa que está conduzindo.